
No dia 17 de novembro, em Évora, decorreu a trasladação dos restos mortais de D. José Joaquim Ribeiro, Bispo de Díli (1967-1977), do cemitério dos Remédios para o Panteão dos Arcebispos de Évora, na igreja do Espírito Santo. Este ato contou com celebração da Solene Eucaristia, pelas 18 horas.
A Eucaristia, animada liturgicamente por um coro de seminaristas e jovens timorenses, foi concelebrada pelo Arcebispo de Évora Emérito, pelo Cardeal D. Américo Aguiar e por cerca de uma dezena de Bispos titulares e eméritos, assim como por muitos presbíteros e servida por vários diáconos.
Os restos mortais do saudoso Bispo contaram com a guarda de honra militar durante toda a celebração.
Uma grande assembleia, maioritariamente composta por timorenses, contou com a presença de diversas personalidades internacionais, nacionais e da região, com destaque para: Chefe da Casa Militar Presidência da República, Vice-Almirante Luís Carlos de Sousa Pereira; Embaixadora de Timor, Isabel Amaral Guterres; Vereadora CME, Carmem Carvalheira; Presidente do Tribunal da Relação, Albertina Pedroso; Diretor da Direção de Formação do Exército, Major General Jorge Manuel Guerreiro Gonçalves; Comandante do Comando Territorial da GNR, Coronel Paulo Miguel Lopes de Barros Poiares; Presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, Luis Fernando Martins Rosinha; Presidente da Assembleia Municipal de Campo Maior, Jorge Manuel Gama Grifo; Presidente da Junta de Freguesia de Degolados, Fátima Calçada; Eng. José Manuel Noites e D. Maria da Conceição Noites.
O Prelado saudou a família do eng. José Noites que acolheu em túmulo familiar os restos mortais de D. José Joaquim Ribeiro no cemitério dos Remédios, em Évora.
Após a bênção inicial, o sacerdote timorense, P. Salvador, leu uma mensagem enviada pelo Cardeal Virgílio do Carmo da Silva, Arcebispo Metropolitano de Díli.
De seguida, foi lida uma mensagem assinada pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, em nome do Papa Leão XIV. “Grande testemunho da Fé e da Esperança diante das enormes tribulações que o povo timorense passava. O Santo Padre une-se às celebrações, concedendo a sua bênção apostólica”, ouviu-se na mensagem lida pelo Vigário Geral da Arquidiocese, Cónego Eduardo Pereira da Silva.
“Filho do Alentejo, pastor incansável do seu povo e defensor da dignidade humana”, começou por sublinhar o Prelado eborense à homilia.
Recordando a biografia de D. José Joaquim Ribeiro, o Arcebispo de Évora sublinhou a ação do saudoso Prelado: “As páginas que relatam o seu episcopado mostram-no “de batina branca, faixa vermelha e cruz peitoral”, percorrendo as ruas da Díli aterrorizada, “visitando as famílias”, aproximando-se dos feridos, denunciando injustiças, sendo ele próprio perseguido e até agredido. Isto não revela uma fé triunfalista. Mas uma fé lutada, construída com lágrimas, uma fé passional, uma fé de paixão dolorosa e uma fé florida em Páscoa libertadora”.
“O Prelado não fugiu e ficou com o povo na hora das invasões, assumiu a defesa do Povo, tornando-se a única autoridade presente capaz de se impor moralmente ao invasor e unindo em esperança o povo”, afiançou D. Francisco Senra Coelho.
“Sinto uma grande tristeza porque deixo o povo de Timor num grande sofrimento”, recordou as palavras do próprio D. José Joaquim Ribeiro o Prelado eborense.
“Coloca-se integralmente ao serviço do povo timorense, repartindo o pouco que tinha para comer. Cria casas para jovens, para religiosas, contou com um trabalho muito próximo dos salesianos e dos jesuítas”, revelou o Arcebispo de Évora.
“Homem orante e contemplativo, quando volta para a Casa Sacerdotal em Évora, vive como eremita. Oculta-se dos jornalistas internacionais que o procuravam. Morre em 2002, na paz dos que mansamente confiam em Deus”, apontou o Prelado.
“Luta pela justiça social, respeito por todos, promoção da paz entre os povos é o testemunho que D. José Joaquim Ribeiro nos deixa”, afiançou o Arcebispo de Évora.
“O legado de D. José Joaquim, algo importante a destacar nesta celebração, não se restringe a um espólio singelo guardado em Vila Viçosa. A memória desta vida cristã é semente. Recordar D. José Joaquim é deixar que o seu testemunho reacenda a nossa esperança, num tempo também marcado por conflitos, polarizações, guerras e descrença. A fé cristã não é fuga da realidade. É encarnação. O Bispo de Díli encarnou a fé no Alentejo e, mais tarde, em Timor e pede de nós uma encarnação para os nossos contextos atuais. Que o seu testemunho de Fé incendei os corações vacilantes e assustados daqueles que hoje têm missão semelhante e continue a iluminar a Igreja de Évora, os irmãos de Timor-Leste, e todo o povo cristão. . O Bispo de Dili encarnou a Fé em Timor, que continue a iluminar a Igreja da Arquidiocese de Évora e da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, assim como o Povo de Timor-Leste”, concluiu o Arcebispo de Évora”.
No final da Eucaristia, os Prelado eborense fez os ritos exequiais e um grupo de sacerdotes transportou a urna para uma das capelas laterais, sendo que a tumulação será feita nesta terça-feira, dia 18 de novembro, por agentes funerários.
Os restos mortais de D. José Joaquim Ribeiro repousarão assim no panteão dos Arcebispos de Évora, junto aos restos de D. David de Sousa (Arcebispo de Évora de 1965-1981) e de D. Maurílio de Gouveia (Arcebispo de Évora de 1981-2008), até que um dia, conforme pedido expresso na mensagem do Cardeal Virgílio do Carmo da Silva, Arcebispo Metropolitano de Díli, regressem a Timor-Leste.
“Um profundo obrigado a todos, às Forças Armadas, às forças de segurança, com especial carinho ao sr. D. Sérgio e aos srs. Oficiais Superiores, aos soldados, a todos os que fizeram esta guarda de honra a este homem que antes de tudo foi Homem. Depois como homem viu-se em Cristo cristão. E como homem cristão português foi um patriota, um homem que amou a nossa bandeira e a trouxe em perigo de vida”, agradeceu o Prelado eborense, acrescentando “obrigado a todos os que vêm de longe, às Casas de Formação Sacerdotal, às Comunidades, aos Movimentos, às Paróquias, lá de longe, a comunidade paroquial de Degolados com o seu pároco, ao senhor Bispo de Portalegre-Castelo Branco e a todos os senhores Bispos que me quiseram acompanhar neste momento em nome da Conferência Episcopal. Bem-haja ao senhor Cardeal. Com apreço pela presença da Presidência da República, da senhora Embaixadora de Timor-Leste e pelos representantes de entidades e autoridades da vida pública, a nossa gratidão. Em nome do senhor D. José, que reza por nós no Céu, um obrigado eterno”.
D. José Joaquim Ribeiro, nasceu na freguesia de Degolados, no concelho de Campo Maior, a 4 de Fevereiro de 1918. Frequentou os Seminários de Évora e foi ordenado na capela do Carmelo de Fátima, no dia 25 de Agosto de 1940, pelo Servo de Deus, D. Manuel Mendes da Conceição Santos.
No dia 27 de Abril de 1958, foi ordenado Bispo por D. Manuel Trindade Salgueiro, de quem foi Bispo Auxiliar até 1965, ano em que foi nomeado Bispo Coadjutor com futura sucessão de Díli, Timor-Leste.
A 31 de Janeiro de 1967, com a resignação de D. Jaime Garcia Goulart, torna-se Bispo titular de Díli. Aí, foi pastor zeloso e após a ocupação da Indonésia, intrépido defensor dos direitos do povo timorense e corajoso pastor no ministério da caridade e dos urgentes socorros aos aflitos, enfrentando por várias vezes, com a valentia dos Mártires, perigos de morte.
Em Maio de 1977, pede a sua resignação ao Papa Paulo VI, confia a Diocese a Mons. Martinho da Costa Lopes, na qualidade de Administrador Apostólico e regressa a Portugal, passando a viver em Lisboa e desde 1986, na Casa Sacerdotal de Évora, onde veio a falecer, às 15 horas, do dia 27 de Julho de 2002.















