Cerca de 700 democratas participaram no almoço comemorativo dos 50 Anos da Revolução de 25 de Abril de 1974, organizado pela Associação Povo Alentejano – Associação para a Promoção e Divulgação da Cultura e História do Povo Alentejano (APA) que decorreu na tarde do dia 25 de Abril de 2024, na Arena de Évora.
O evento contou com o apoio da Câmara Municipal de Évora, União de Freguesias do Bacelo e Senhora da Saúde e de um vasto conjunto de instituições, particulares e empresas, que, com a sua generosidade e empenho conseguiram proporcionar aos inscritos a merecida festa.
Num fraterno convívio, com comida típica alentejana, onde não falou também o Cante Alentejano pela voz dos Cantares de Évora e das Vozes de Abril, este foi igualmente um momento para relembrar e defender as grandes conquistas conseguidas com a Revolução de Abril, mas também para alertar para os perigos que as cercam cada vez mais e ameaçam destruí-las.
Como herdeira do património das Unidades Cooperativas de Produção e da Reforma Agrária que teve lugar no Alentejo após o 25 de Abril, a Associação Povo Alentejano, pela voz do 1º Presidente eleito da Câmara Municipal de Évora, Abílio Fernandes, sublinhou a necessidade de defesa de uma nova reforma no sector agrícola que “assegure a Soberania Alimentar do nosso país, particularmente devido aos perigos de difícil previsibilidade e controlo humano, nomeadamente: surtos epidémicos, alterações climáticas, seus efeitos e consequências, e guerras, como as que nos estão a ameaçar”, uma vez que “O que comemos, é sem dúvida, um bem vital para a nossa sobrevivência”!
Neste evento, cuja apresentação do programa esteve a cargo do Director do CENDREV, José Russo, além de Abílio Fernandes (Presidente da APA e personalidade marcante na consolidação do Poder Autárquico Democrático), foram também oradores o atual Presidente da Câmara Municipal de Évora, Carlos Pinto de Sá, e o Director de Oncologia do Hospital do Espírito Santo, Rui Dinis.
Na sua intervenção, o Presidente Carlos Pinto de Sá evidenciou a ação do regime fascista que imperava antes da Revolução de Abril, marcado pela “liquidação das liberdades, o ódio, a calúnia, a censura, a repressão, perseguições, torturas e assassinatos”, onde a maioria da população vivia no “subdesenvolvimento e miséria e o poder local era nomeado pelo Governo sem qualquer tipo de autonomia”.
Sublinhou o valor da Revolução de Abril, como “a mais profunda e positiva transformação económica, política, social e cultural que Portugal registou e as suas variadas conquistas, entre elas a criação do Poder Local Democrático e finalizou falando do presente, onde aumenta o esquecimento da História e com ele a regressão social e a pobreza. No entanto, deixou uma esperança: “Muitos cravos ainda andam por cá e muitas sementes por aí estão e estarão espalhadas” e “Da Revolução de Abril uma certeza nos fica: construir uma sociedade melhor, construir um mundo melhor, é possível”.
O médico Rui Dinis, defensor do Serviço Nacional de Saúde que é uma das conquistas de Abril, recordou a história da Constituição Portuguesa, com os seus avanços e recuos, destacando o nascimento da mais recente Constituição Portuguesa, a de 1976, onde pela primeira vez os avanços de direitos e de garantias dos cidadãos foram significativos.
Mas, se “os direitos políticos e as garantias dos cidadãos têm resistido relativamente incólumes às ferroadas das abelhas totalitárias”, explicou, “os direitos económicos, esses, foram rapidamente varridos do mapa pelos ventos neoliberais que cá sopravam do Reino Unido de Tatcher e dos EUA de Reagan”.
Quanto aos direitos sociais, considerou que “estes estão mais ameaçados do que qualquer espécie animal ou vegetal em extinção”, concluindo que “sentada no divã do psicanalista, a Constituição procura agora reencontrar os seus Id, Ego e Superego perdidos”. E, “se ela já é uma manta de retalhos que apenas contém 10% dos artigos do texto original de 1976, fica a pergunta existencial: deve o que resta da Constituição servir para cobrir ou cumprir Abril?”.
Durante o almoço foram sorteadas obras de vários artistas plásticos: uma pintura e uma serigrafia da Teoartis – criadas por Mehmet Cem Kirmiziglu (Turquia) e Maria Dima (Roménia) – um quadro do pintor eborense Marcelino Bravo e uma escultura de Pedro Fazenda, especialmente feita para esta comemoração.
Além da animação feita pelas Vozes de Abril e pelos Cantares de Évora, foi ainda declamado um poema pela atriz Rosário Gonzaga e exibida uma exposição sobre os 50 Anos de Abril, feita por Madalena Garcia.
O coletivo “Vozes de Abril”, dirigido pela cantora Mara, fez ainda uma atuação no Parque Infantil do Jardim Público de Évora, antes do almoço.