O Governo está a ponderar que uma ou duas horas do dia 30 de Janeiro sejam reservadas para as pessoas em isolamento. O Parlamento foi dissolvido e não antecipou que podia haver muitos eleitores confinados. Em Outubro, vivíamos sob a aura do “País da Europa com maior taxa de vacinação” e os casos eram poucos, não foi previsto nenhum cenário de grande incidência Covid.
A nova variante mudou tudo, os epidemiologistas vaticinaram até 1 milhão de isolados e aqui “d’el rei” que vamos ter a maior abstenção de sempre, pondo em causa quiçá a legitimidade de uma Assembleia eleita por tão poucos.
Reduziu rapidamente o número de dias de isolamento, sem discussão, os testes já não são prioridade e o Governo como escrevi, pondera levantar o isolamento no dia das eleições.
Esquece-se o sofrimento de todos aqueles que não puderam por exemplo ir ao funeral de entes queridos, porque estavam em isolamento, para além de todas as outras limitações da sua vida. Todos os que nas duas eleições não votaram, etc
Também deve ser tomada em linha de conta, a dificuldade de ter pessoas nas mesas de voto, sabendo que vão ter pessoas com maior probabilidade de estarem infetadas.
Ao fim de dois anos de Covid e não se evoluiu nada no voto eletrónico, quando por essa via, já temos transações bancárias, impostos e segurança social, cartão de cidadão, receitas médicas, certificados digitais Covid e tantas outras documentos e atividades importantes da nossa vida.
Agora uma perspetiva em números, nas últimas eleições legislativas de 2019 houve 51.43% de abstenção. Se estiverem 225 mil pessoas em isolamento, admitindo a mesma taxa de abstenção, teremos um universo potencial de votantes de 109.282 eleitores.
Se por causa do medo de haver pessoas isoladas a votar, outros não votem, também em números, basta dizer que se 1.17% sofrerem desse receio, aplicados aos 9.323.688 eleitores nas listas das últimas eleições, teremos menos 109.282 eleitores a não votar. Logo anula-se o efeito pretendido.
Será que vale a pena?
António Ferreira Góis
Diretor da RNA