Devido à enorme aceitação que a peça “Pó e Batom” teve no final do ano passado, o Cendrev decidiu repor durante uma semana, durante este mês de fevereiro, no Teatro Garcia de Resende, em Évora de 19 a 25.
“Pó e Batom” é um original de Esther F Carrodeguas, com tradução e encenação de Sofia Lobo, conta com a interpretação de Ana Meira e Rosário Gonzaga.
É uma fantasia lírica, a partir de duas conhecidas mulheres de Santiago de Compostela. Maruxa e Coralia Fandiño Ricart são duas irmãs que todos os dias cumprem escrupulosamente o mesmo ritual, saindo às duas em ponto para passear, vestidas e maquilhadas de forma garrida, repetindo percursos e enfrentando a cinzenta sociedade franquista que as marginaliza e maltrata, por serem de família republicana anarcossindicalista.
Par inseparável que reinventa o sentido da vida, ora de forma cómica, ora ácida, resistindo e sobrevivendo em situação muito adversa. São galegas, mas reconhecemo-las em outros lugares e outros tempos, ao percorrermos a ponte que vai do particular ao universal, como pode acontecer quando temos nas mãos uma peça de teatro tão forte como esta.
“Pó e Batom” nasce da vontade de trazer à luz a história de Maruxa e Coralia Fandiño Ricart, conhecidas em Santiago de Compostela como As Marías, ou As Duas em Ponto.
A vida destas duas irmãs — que inicialmente eram três — decorria com normalidade durante a Segunda República: todos os dias saíam para passear vestidas com roupas coloridas e falavam alegremente com os estudantes. Mas tudo mudou radicalmente durante a Guerra Civil. De família anarcossindicalista, sofreram na pele situações de perseguição e violência diária. A vizinhança, que antes da guerra era sua cúmplice, deixou de as olhar, desprezando-as e condenando-as à miséria.
Entre os anos 40 e 50, Maruxa e Coralia voltaram a sair à rua, com roupas coloridas e maquilhadas em excesso, mandando piropos aos estudantes bonitos, insultando as mulheres de que não gostavam e sobrevivendo com o pouco dinheiro que os compostelanos deixavam em algumas lojas para que não morressem de fome. Em suma, viveram o exílio na sua própria terra, mas a sua força — que as aproximou da loucura — foi uma lufada de ar fresco e de cor numa Compostela completamente cinzenta.
Pó e Batom parte dessa rotina do passeio diário por Compostela para ir mais além e acabar por contar, com humor irónico, a cruel história que há por trás de Maruxa e Coralia Fandiño Ricart, convertidas com o passar do tempo em símbolo de liberdade.
Este espetáculo estará em cena no Teatro Garcia de Resende, em Évora, de 19 a 25 de fevereiro, de segunda a sábado às 19.00 horas e domingo, dia 25, às 16.00 horas.