“A Cooperativa Minga é um projeto que existe em Montemor-o-Novo há quase 10 anos. Trata-se de uma cooperativa multissectorial, que agrupa cinco setores, que é o da agrícola, produção, consumo, serviços e habitação, conforme referiu à RNA, Filipe Cabrita, presidente da direção da Minga.
“Nesta lógica de cooperativa integral e de tentarmos, com a Minga, estabelecermos estratégias de permanência, no fundo nós sentimos que às vezes as circunstâncias de trabalho são um bocadinho hostis, eu acho que a vida hoje está rápida, nós somos muitas vezes obrigados a mudar e a cooperativa pretende ser uma estratégia de permanência e obviamente que nessa abordagem a habitação é uma das questões mais complicadas e que é chave. Nós já estamos aqui há mais de nove anos e sabemos que desde essa época, a habitação não era fácil de encontrar aqui em Montemor.
Portanto, quando montámos este projeto, era importante também continuarmos a trabalhar de forma proactiva para encontrar soluções para resolver a questão da permanência”, sublinhou.
“Desde o início pareceu-nos natural que a Minga tivesse também a sua própria cooperativa de habitação. Agora, o que descobrimos à medida que fomos mergulhando nestes temas, é que não é à toa que elas deixaram de existir, ou seja, durante um tempo haviam condições favoráveis, até linhas de financiamento, as câmaras mais abertas à questão das cedências de terrenos, havia todo um ecossistema que permitia que os projetos acontecessem com alguma naturalidade, esse tipo de apoio foi desaparecendo. O governo começou a dar mais apoios no sentido dos créditos bonificados para as pessoas comprarem as suas próprias casas”, acrescentou.
“Quando nós falamos numa secção de Habitação e Construção, é assim que é o nome formal previsto no Código Cooperativo, não é só a ideia de construir uma cooperativa de habitação, uma CHE, como nós conhecemos, podem ser muitas outras coisas. A cooperativa poderia, por exemplo, tratar dos contratos de arrendamento de pessoas que às vezes não têm condições por alguma razão burocrática por exemplo, e a cooperativa pode ser sempre um intermediário, também ajuda a fortalecer as relações de confiança entre proprietários e arrendatários, etc”.
“Já há muitas formas de nós podermos tentar resolver os problemas da habitação e temos estado até há pouco tempo a fazê-lo, assim mais numa lógica de voluntário, ou seja, dentro da cooperativa temos muita gente relacionada à arquitetura, e as engenharias, e então temos em nós competências técnicas que nos permitem estudar estes temas a fundo. Até há pouco tempo, até há um ano atrás, fazíamos nos nossos tempos livres. No último ano conseguimos um financiamento e então isso deu-nos alguma margem para trabalharmos de uma forma mais profissional e temos estado a desenvolver uma série de atividades nesse sentido e parte delas é criar eventos públicos que expliquem ou relembrem às pessoas o que é uma cooperativa de habitação”, salientou.
“Os encontros têm sido bastante participados, de uma forma geral acaba por ser uma camada mais jovem, que eu acho que está mais aberta a isso, mas também há uma diversidade grande nos nossos encontros. As pessoas são curiosas e vêm para perceber exatamente aquilo que nós estamos aqui a tentar fazer. Agora nós estamos numa fase um bocadinho ainda precoce, porque apesar de estarmos em contato direto com a Câmara Municipal e já estamos desde há nove anos, eles têm andado connosco, os dois executivos, a tentar perceber como é que podem também contribuir para esta solução. Depois acabamos por ficar parados na parte de financiamento, porque as cooperativas são vistas pela banca normal como uma empresa e há um limite de maturidade do crédito de 15 anos, ao passo que uma pessoa individual pode pedir um crédito habitação pago em 30 anos, uma cooperativa só lhes dá a possibilidade de pagar em 15”, disse Filipa Cabrita.